domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Triste História da Flora Fluminense

Almanak Agrícola Brasileiro 1922

Existindo na Biblioteca pública o Rio de Janeiro o manuscrito da Flora Fluminenses, acabado em 1790, por Frei José Mariano da Conceição Veloso, religioso Franciscano, natural de Minas Gerais, nascido em 1742, pertencente ao convento de Sano Antônio do Rio de Janeiro, onde faleceu no dia 14 de junho de 1811, jaz sepultado em urnas das carneiras do claustro do seu convento, em cuja obra colaboram Freimss1095062_109 001 Francisco Solano, Frei Antônio de Santa Ignez, Francisco Manoel da Silva Mello, José Corrêa Rangel, José Aniceto Rangel, João Francisco Xavier, Joaquim de Souza Marcos, Firmino José do Amaral, José Gonçalves e Antônio Alvares, habilíssimo pintor, aconteceu que tomando conta da Biblioteca pública do Rio de Janeiro, Frei Antônio de Arrabida, mestre e valido do primeiro Imperador, encontrasse ali, o precioso manuscrito da Flora Fluminense, mandado fazer pelo benemérito vice-rei Luiz de Vasconcellos e Souza, depois visconde de Figueiró, que se empenhava, pelo engrandecimento e esplendor da capital do Rio de Janeiro;o qual emprestou ao sábio religioso e naturalista brasileiro, todos os auxílios, para que terminasse tão grandiosa obra.

Francisco Antônio de Arrabida, entusiasmado por ter achado o preciosos manuscrito tão gabado pelo sábios, que julgava perdido depois de o ler e corrigir, e confiá-lo a revisão do sábio Dr. João da Silveira Caldeira conheceu completo, quanto as estampas; porém viu que lhe faltavam algumas descrições; mas não obstante reconhecendo que era digno de publicidade, pela importância do assunto, e bem acabado do trabalho; aconselhou ao governo imperial, de mandar imprimir a obra; e muito se empenhou, para que ela aparecesse como desejava; mandando-se a Paris os desenhos, para serem litografados na oficina de Lasteyrie, como a mais conceituada do tempo. Enquanto se aprontavam as estampas, Fr. Antônio de Arrabida, depois bispo de Anemuria, fazia imprimir na Tipographia Nacional, o texto latino em 1825. O que não resta dúvida, é que, se mandando as estampas para França, deu-se começo em Paris ao trabalho da gravura, montando-se ali, uma repartição, onde o Estado despendeu um milhão de cruzados, afim de divulgar o precioso monumento, que tanta gloria nos dava.

Acabada a obra, consta que mandaram ao Rio de Janeiro 500 exemplares; ficando em Paris 1.500; os quais, não sendo reclamados, foram entregues, não sei a quem, e dos quais salvaram-se algumas coleções; e por fim, se reconhecendo que essas estampas não eram mais procuradas, foram vendidas ou dadas, ao chapeleiro que fornecia barretinas, para o exército Frances, o qual forrou com as estampas, as que estava fazendo para os soldados do exército.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Sapucainha e suas propriedades medicinais

Almanaque Agrícola Brasileiro, 1922 – Waldemar Peckolt

As “amêndoas”, têm sabor que lembra o das nozes, podem ser comidas cruas, assadas ou cozidas, prestando-se também para a confecção de doces saborosos, por processo igual aos das nozes e amêndoas. Uma vez cultivadas intensivamente, a produção d suas sementes, pode ser utilizada para auxiliar a alimentação dos suínos e a sua engorda , por ser ótimo alimento de poupança e reserva, além de seu sabor agradável; a outros animais pode também ser distribuída.

Dizem os sertanejos e “curiosos”, que aos cavalos e ao gado, essas sementes dão brilho ao pelo , expelem os vermes intestinais, purga-os, segundo a dose, e , curam os cursos diarreicos. Aos cães é usado em fricção no tratamento da sana, e , internamente, com as sementes socadas cura as “câimbras do sangue”.Sapucainha1

A Sapucainha fornecem alguns contingentes para a medicina popular: as suas cascas, são usada como adstringente, sob a forma de cozimento e infusão, no tratamento das diarreias; as suas folhas, em chá ou infusão, na dose de 3 a 4 xícaras por dia, são usadas como tônicas cardíacas e diuréticas. O seu fruto é aparte mais utilizada; as sementes ou amêndoas, cruas, constituem um purgativo, suave e catártico, na dose de 3 a 4 inteiras ou socadas, são tidas também como afrodisíacas.

O seu óleo, sucedâneo do óleo de amêndoas doce, é empregado com os mesmos fins, mas a sua ação purgativa, é suave e intensa, na dose de 30 a 60grs para os adultos e na dose de 10 a 40grs, para as crianças; externamente, ainda é usada em fricção no tratamento de algumas moléstias da pele; presta-se bem ao fabrico de sabonetes, considerados bastante úteis para amaciar e embelezar a pele; ainda ser na confecção de emplastos, cataplasmas e linimentos, como resolutivo, ou em substituição ao óleo de amêndoas doce. Esse óleo é obtido por expressão das sementes, com o fim de lubrificar os cabelos.

O perisperma que envolve as amêndoas, é amargo e tânico; a sua tintura ou alcolatura é usada frugalmente, e muitas vezes associados as sementes inteiras, no tratamento das disenterias, diarreias acompanhadas de sangue, nos catarros intestinais agudos e crônicos; nas moléstias do fígado favorecendo o fluxo biliar; em algumas hemorragias, nos enfartamentos ganglionares e dizem os “mesinheiros”, que também, em algumas moléstias do coração. Este fato precisa de observação apurada, que pretendemos fazer.

A cuia ou caçamba da Sapucainha é também usada pelo vulgo e “mesinheiros”, com fins medicinais, pois dizem que a “água dormida”, nesta caçamba e tomada em jejum, cura as prisões rebeldes do ventre, servindo também para as moléstias do estomago, o que é explicável, pelo simples fato de prestar-se a este fim, a água pura, tomada em jejum.

A crendice popular aconselha ainda o uso daquela “água”, para amaciar a pele e tirar as manchas da sarda, o que afinal não passa de um empirismo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A Sapucainha e suas propriedades

Almanaque Agrícola Brasileiro – 1922 - Waldemar Peckolt

Dentre as árvores completas, isto é, cujos elementos são todos aproveitáveis, cresce em nossas florestas a Sapucaia, árvore brasileira que por si só reúne diversas e diferentes propriedades; ela presta reais serviços à indústria, à medicina, ou simplesmente aos usos domésticos rudimentares. Esta Leythidacea, outrora incluída no grupo das Myrtaceas, conserva ainda o seu gênero Lecythis, dele fazendo parte, grande número de espécies brasileiras, que habitam em estado silvestre, as nossas florestas e matas, e conhecidas vulgarmente por Sapucaia.Sapucaia arvore

Sapucaia ou Sapukaiá, origina-se por corruptela do aborígene Sopia-aiacá, passando a Jaca-pucaya,chegando posteriormente a Sapucaya, ou simplesmente Sapucaia, ainda chamada Sabucaia; mas cuja significado indígena, é a mesma expressa no gênero dessas plantas, “cumbuca”, “fruto de cumbuca”. O seu nome genérico, igualmente explica o feitio de seu fruto, Lecythis, origina-se do grego, e significa “frasco”, “vaso”, adaptação perfeita de um dos seus caracteres morfológicos.

Essas árvores, são ainda conhecidas vulgarmente, por “Cumbuca de macaco”, “Cumbuca do mato”, “Marmita de macaco”, “Árvore de caçamba”, “Caçamba do mato”.

A Sapucaia, ou melhor as Sapucaias, pois numerosas são as suas espécies, apresentam todas, propriedades análogas, com significante variedade, sendo muito estimada como árvore de real utilidade; o seu cerne é considerado “madeira de lei”; as suas cascas, fornecem abundante fibras têxteis; o líber que é papiraceo, presta-se no interior, a suprir, em sua falta, a palha de milho para a confecção de cigarros; o fruto, todo ele é aproveitável; a “caçamba” serve de marmita, copo ou vaso, além de certas particularidades; a sua polpa é comestível e medicinal; as suas sementes, de ótimo paladar, prestam-se a extração do óleo, para usos industriais e culinários, além de medicinai; como alimentoSapucaia de regalo, ou de poupança são muito apreciadas; as suas folhas, reduzidas á cinzas, formam um bom adubo, sendo ainda medicinais, as raízes gozam de fama de medicina mezinhe- ira.

Vemos pois, quão útil é esta árvore que jaz abandonada em estado nativo anseio das nossas florestas, encerrado consigo o segredo da sua imensa fortuna!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Plantando Mate

Almanaque Agrícola Brasileiro – 1921-Peckolt Gustavo

Logo que a planta atinge a altura de 15 cm, mais ou menos, é transplantada para um terreno ligeiramente úmido, distante os pés uns dos outros três a quatro metros, sempre cuidadosamente resguardados dos raios solares e abrigados sob outras árvores. Estas plantas requerem,para o seu desenvolvimento, clima temperado e desde que cheguem a atingir dois metros de altura, se libertam da proteção das outras árvores que se resguardavam do sol, até este ponto.

Com quatro anos o mate já fornece boa colheita, mas deve , com tudo evitar-se a apanha total das folhas; e das que estão situadas na parte central da planta, ao fim de janeiro, já se pode obter, de cada exemplar, 30 a 40 quilos de folhas.

A planta cultivada não alcança geralmente tão elevada altura quanto a que cresce nas florestas.Erva Fina

A boa qualidade do mate depende da época da sua colheita, e, por consequência, há necessidade de se fazer a colheita quando seus frutos estiverem quase maduros.

Na Argentina e no Rio Grande do Sul se faz a colheita das folhas depois do mês de fevereiro e, geralmente até os fins de julho.

Nos ervais do Paraná e de Santa Catarina , a colheita é feita de 10 de janeiro a 15 de setembro, e , no Paraguai, de março a setembro.

Para obter boa colheita, é necessário que as folhas não estejam molhadas e, por isso, é preciso colher entre 9 e 5hs da tarde, quando o sol está de fora.

Nos lugares onde o mate é muito  comum nas florestas, os seus coletores ou tarefeiros, partem um mês antes da colheita, em caravanas, com suas famílias para o sertão; aí arrumam suas barracas e entregam-se à colheita do mate. Feita esta geralmente, passam sobre o fogo os galhos e pequenos ramos, que são enfeixados e depois suspensos, num tirador armado entre dois troncos de árvores entre os quais se conserva um fogo brando, mantido sempre com galhos secos e folhas de palmeia. Esta operação dura dois dias, ao fim dos quais a secagem está completa. Apagam, então, o fogo e estendem sobre as cinzas um couro de boi, em cima do qual despejam as folhas do mate as quais são separadas dos galhos pela batida com varas.

Em certos lugares, no Estado do Paraná, costumam secar as folhas do mate em grande tachos de ferro, como fazem com o chá da índia, ou também em fornos, ou aparelhos especiais, afim de que o mate não perca o aroma desenvolvido de suas folhas, pela ação do calor.

Essas folhas assim preparadas, são partidas em pedaços pequenos, ou reduzidas a pó, pela ação de máquinas e assim coloca-se o produto para consumo.