domingo, 28 de novembro de 2010

Theodoro Peckolt: O Farmacêutico e a Flora Brasileira

 

Theodor Peckolt nasceu em Pechern, na Silésia alemã, em 13 de junho de 1822. Sua paixão pela química e pelas plantas começou muito cedo. Peckolt revelou sua vocação, trabalhando como prático em farmácias. Mais tarde, prestou serviço militar coTheodoro-Peckoltmo farmacêutico na fortaleza de Glogau. Estudou farmácia, posteriormente, nas Universidades de Rostock e Gottingen e, em 1846, começou a trabalhar no Jardim Botânico de Hamburgo. Foi contemporâneo de importantes cientistas como von Martius, Eichler, Wiegand, Goeppert, Hanbury, Oberdoerfer e Dietrich. Reconhecendo aptidões de Peckolt, von Martius o induziu a visitar o Brasil na excursão científica de 1847, a fim de estudar a flora tropical e remeter-lhe o material colecionado. Peckolt embarcou no navio “Independência” em 28 de setembro. chegou ao Brasil em novembro e aqui permaneceu os restantes dos seus 65 anos de sua vida.

Em janeiro de 1848, Peckolt empregou-se na farmácia de Mariolino Fragoso, e como havia aprendido nossa língua em uma pequena gramática da língua portuguesa que havia copiado e decorado na viagem de navio, as pessoas não conseguiam entender o que falava em português. Todas as conversas eram feitas por escrito, que Peckolt traduzia por dicionário. Foi desta forma que aviou suas primeiras receitas. Nos sete meses em que ficou nesta farmácia. Peckolt aprendeu a falar português sofrível e conseguiu juntar o dinheiro necessário para comprar um animal de sela e preparar a viagem. Tudo apesar dos apelos de Fragoso, que lhe propôs fazer o exame de suficiência e dar-lhe sociedade na farmácia.

Em setembro de 1848, Peckolt começou sua exploração do país, viajando a cavalo, percorreu as Províncias do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, estudando-lhes a flora. Existiam, então poucos médicos no interior e os conhecimentos farmacêuticos do jovem naturalista colocavam-no na posição vantajosa de poder prestar reais serviços aos doentes que o consultavam. Como compensação destes serviços recebia, além dos honorários, objetos interessantes de história natural e contribuições valiosas para a sua coleção botânica. No início de 1850, passou algum tempo com os botocudo nacnanoue do Rio Doce, antes de voltar pra o Rio de Janeiro. Os recursos que poupou permitiram a Peckolt manter-se na Corte por algum tempo. Apresentou-se ao exame farmacêutico na Escola de Medicina do Rio de Janeiro em julho de 1851 e foi aprovado .

Em novembro do mesmo ano, estabeleceu-se em Cantagalo, Rio de Janeiro, a convite de médicos e fazendeiros alemães e suíços. Ali comprou uma farmácia e casou-se, em 12 de junho de 1854, com D. Henriqueta, filha do vigário protestante da colônia alemã de Friburgo, cidade da qual foi um dos fundadores. Peckolt preferia Cantagalo a Friburgo porque a cidade estava mais próxima das matas do vale do rio Doce, o que tornava as expedições mais baratas. Viajava em companhia de dois índios como guias e para maior segurança, acompanhava as tropas do exército que por ali passavam. Em suas viagens percorreu grande parte do vale do paraíba e as margens dos rios Pombas e Doce. Atravessou grande parte do estado de Minas, fazendo de Diamantina seu centro de operações. Sua contribuição para a Flora Brasiliensis, de von Martius, foi vultosíssima, distinguindo-se este cientista com a máxima confiança. Sua colaboração não se limitou ao fornecimento de materiais: von Martius e seus colaboradores enviavam-lhe as provas tipográficas de textos e desenhos para que fossem comentados e corrigidos. Nestas excursões colheu muito material até então desconhecido, que hoje enriquece o Museu Nacional no Rio de Janeiro, vários museus na Alemanha, e museus e Estocolmo e Upsala.

Peckolt permaneceu em Cantagalo até 1868, e ali realizou cerca e quinhentas análises quantitativas de extrato de plantas da flora brasileira, grande parte das quais foram publicadas em revistas internacionais. Algumas destas análises ainda hoje são únicas, como a do guaraná da Amazônia. Ele estudou plantas brasileiras de diversas famílias, observando as condições nas quais vivem e se multiplicam, recolheu dos nativos informações sobre nomes triviais, usos e propriedades farmacêuticas. O herbário fornecia-lhe os meios para a comparação morfológica as numerosas espécies e, no laboratório, Peckolt aprofundava o trabalho, obtendo informações detalhadas sobre a composição química das plantas medicinais, seus alcaloides e outras substâncias de extração. “Não conhecemos”, diz Hermann von Hering “outro exemplo de naturalista , versado igualmente, em estudos botânicos e químicos, que tão profundamente tivesse estudado e esclarecido por investigações próprias, o estudo econômico, farmacêutico e químico de qualquer flora tropical”. Peckolt ocupou-se também de questões zoológicas, dentre as quais destacamos o estudo das Trigoniidas, as abelhas sociais do Brasil.

No período de 1852 a 1867, ainda residente em Cantagalo, recebeu muitas horarias acadêmicas, foi nomeado. Membro Correspondente da Real Sociedade Botânica de Regensburgo, recebeu igual distinção da Real Sociedade Farmacêutica da Alemanha. Foi feito Doutor Honoris Causa da Academia Cesária Leopoldino-Carolino-Germânica, instituição alemã que gozava então de grande prestígio. Em 1864, foi nomeado Oficial da ordem da Rosa, por sua participação na Exposição Nacional do Rio de Janeiro, 1861, na qual obteve medalha de ouro. Os produtos que então apresentou incluíam frutos, sementes, cascas, raízes, óleos, resinas, gomas, sucos e extratos, dentre outros e estavam prontos para uso farmacêutico. Esta coleção foi integralmente remetida para a Exposição Universal de Londres, 1862, “sendo recomendada não só pelo seu interesse científico, como ainda pelo alcance que alguns dos preparados que aí se encontram, podem e devem ter relação aos interesses das indústrias e sobretudo da farmacologia.

Em abril de 1868 mudou-se definitivamente para a Corte, onde fundou a Farmácia Peckolt, na rua da Quitanda 157. Nela mandou construir um laboratório em que continuou a analisar nossas plantas. Pouco depois recebeu, das mãos do Duque de Saxe, um dos genros de D. Pedro II o título de Farmacêutico da Casa Imperial.

É singular, que os resultados obtidos por este incansável cientista tivessem sido tão pouco conhecidos e apreciados no país que ele adotou. Com seu falecimento em 1912, desaparece o último representante dos botânicos como Glaziou, Ule, Dusen, Mueller e Barbosa Rodrigues, que por numerosas publicações e criação de coleções promoveram o conhecimento da flora do Brasil.


Bibliografia:

Revista Química Nova Set/ out 1998 Vol. 21 nº 5 pág. 666 a 670

Theodoro Peckolt: Naturalista e Farmacêutico do Brasil Imperial

autores: Nadja Paraense dos Santos; Ângelo C. Pinto e Ricardo Bicca de Alencastro

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