sábado, 21 de agosto de 2010

Principium somniferum em humanos

Sertuerner procurou três jovens “maluquinhos” da cidade, que lhe garantiram não terem medo de coisa alguma e convidou-os para uma sessão noturna na farmácia. Quando os rapazes chegaram, Sertuerner já estava com as doses prontas, metido, como um feiticeiro, entre aqueles filtros e frascos, mas a coragem dos moços fraquejava.

- Upa! exclamou um. Isto aqui não está me cheirando bem. Quero ar, ar……

O feiticeiro impediu-os de fugir.

- Não tenham medo de nada. Tudo está pronto, e teremos algo tremendamente excitante.

- Espere lá, Herr Sertuerner! Eu pensei que…

- Tolice. Não pense nada. Não há coisa nenhuma a temer. Também eu vou ingerir uma dose dos cristais mágicos. ( E por que não? pensou consigo. Posso acordar antes deles e a tempo de fazer minhas observações).

E tudo explicou claramente

- Vamos cada um de nós tomar uma pitadinha deste pó branco. Primeiro, dissolvo-o, assim, no álcool, estão vendo? Já dissolveu… E agora misturo água, para que não nos queime o estômago. Juro que não há perigo nenhum, dosezinha fraca, de meio grão. Olhem aqui. Meio grão para cada um, inclusive eu…

Os três pacientes, graves como sacerdotes oficiantes, tragaram as suas respectivas porções.

- Agora, disse Sertuerner, contem-me tudo que foram sentindo. Vamos, Otto. Não está assim um tanto não sei como?

- Sinto-me engraçado, respondeu Otto. O rosto, quente. Mas é bom, muito bom. Sinto-me deliciosamente bem…

Sertuerner tomou nota, e ficou a anotar tudo quanto via, sentia ou ouvia aos três pacientes. Foram Ficando eufóricos, com a respiração acelerada. Meia hora depois tomaram outra dose de meio grão.

Breve perdeu Otto aquele ar feliz. Seu rosto empalideceu. Os outros dos, Hermann e Karl, queixaram-se de dor de cabeça e recrescente topor. O próprio Sertuerner sentiu-se tonto, mas sorria e dizia que era assim mesmo, de modo a sossegar os rapazes. E quinze minutos depois tomaram a terceira dose, mais meio grão. Sobrevieram coisas. Otto estirou-se no chão e começou a roncar. Karl tentou manter-se de pé, mas caiu na cadeira subitamente tomado de sono. Hermann sentiu falta de espaço  e fez-se de rumo á porte, mas caiu antes de alcançá-la e estendeu-se no chão profundamente adormecido.

dormindo

- Notável murmurou Sertuerner. Eles caem, batem com a cabeça no chão e não dão sinal de dor, e cerrando o punho deu um murro na própria cabeça, e outro e outro, e quase nada sentiu.

Forçando por conservar os olhos abertos afim de tomar nota, Sertuerner sorri diante da confirmação das suas experiências com animais. Por fim, também caiu adormecido, e boiou em nuvens de sonho.

Baseado no livreto

Silverman, Milton – Magica em Garrafas – A História dos Grandes Medicamentos.

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